19.12.03

replay DDR

A minha vida está um caos. Finou-se a velha sony e agora o relvado não cabe na outra. Só consigo ver a bola entrar em replay. Como eu não sou taxista, pagamento por conta e nova sony são incompatíveis. Depois, nunca mais chega o clio parisiense e na minha cabeça já está armada uma grande confusão entre o estacionamento em espinha e o estacionamento entre dois carros. Além disso, tenho poemas e receitas em lista de espera. E filmes.

Ontem fui ver "Adeus, Lenine". DDR 1989-1990. Alexander, com a conivência do círculo que lhe é próximo, esconde à mãe, recuperada de um coma de 8 meses, a queda do muro de Berlim e as transformações que anunciam a extinção do país que, para o bem e para o mal, é o seu.

O enredo, tricotado por peripécias e fait-divers, em que os símbolos falam antes das personagens, serve de uma forma simples e sem rodeios as questões da identidade (e da identificação), do amor (e da entrega), da realidade (e da representação), da cumplicidade (e da partilha). O filme nunca foge, nunca deixa de responder às questões que põe, escolhendo para tal um registo trágico-cómico. E isso é um mérito maior.

Actores, cinco estrelas. Realização: convicta, na relação com o argumento; sólida, na direcção de actores; um tanto irregular quanto à técnica e ao domínio do tempo. Em particular apreciei a construção dos primeiros e últimos 20,25 minutos. Igualmente, tão depressa não me esquecerei da sequência de Lenine aerotransportado. Saí da sala com esta estranha sensação: um filme tocante e frio.

Et voilà! Agora que despachei o Lenine da lista de espera, segue-se o arroz árabe ao jantar.