30.7.08

29.7.08

26.7.08

no sinal

Lá estava ele do lado oposto da passadeira. Eu olhei-o da cabeça aos pés. Só para confirmar que a tradição ainda é o que era. Mas, é claro, o Puma Branca não estava sozinho. O Puma Branca nunca está sozinho.

Ora falava para a direita onde o comerciante chinês ajustava o mp3 aos ouvidos, ora dava um caldinho na cabeça do puto loiro, de calções e toalha ao ombro, pronto para desafiar o Oceano dali a hora e meia na Caparica. De manhã é que se começa o dia, parecia ser o pensamento que unia toda a rua. Havia no ar um cheiro a maresia, que é o género de cheiro que a palavra melhora, penso sempre. Pouco passava das oito da manhã. Há quem ache muito cedo para pensar.

Do lado de cá, vejo o chinês a decidir-se e tirar a porcaria do auricular. O puto ri-se e olha para o Puma. O Puma verifica os óculos de sol pendulados na gola da t-shirt à cava. O puto leva mais um caldinho. E explica-se. Deve-lhe estar a explicar que se rira do chinês, não dele, Puma, Puma Branca para mim, cujo nome civil desconheço em absoluto. Desvio o olhar para um autocarro. O autocarro abranda. Não por causa do meu olhar, mas por causa do sinal amarelo, concluo. Olho para o lado.

Ainda estava a olhar com cara de má para a romena que me pôs uma mão no ombro para pedir dinheiro quando o sinal abriu. Segundos depois, cruzavamo-nos todos na rua da maresia.

25.7.08

20.7.08

dia (10)_ 21:02 _ pares

DSCN8609© fatima ribeiro2008DSCN8609© fatima ribeiro2008

NAPOLEÃO

O que é o mundo, ó soldados?
Sou eu:
Eu, esta neve incessante,
Este céu do norte;

Soldados, esta solidão
Que atravessamos
Sou eu.

Walter de La Mare
(1873-1956)
trad.:Cecília Rego Pinheiro

18.7.08

dia (9) _ o dia em que o Vítor morreu

_ o Vítor gostava de viver_ também gostava dos seus amigos_ e de mulheres_ e de gatos _ e de câmaras de filmar _ o Vítor foi meu colega de escola e de trabalho_ e meu amigo inesquecível _ adeus, Vítor

DSCN8468© fatima ribeiro2008DSCN8468© fatima ribeiro2008

17.7.08

16.7.08

13.7.08

declarações não-electrónicas (2)

'Não ando de autocarro', oiço com frequência.
Há pessoas que não gostam de ser confundidas. Era um desprestígio enorme, imagine-se, alguém dizer de alguém a alguém: '- Ontem vi B sair do 42'. E C: '- Não acredito. Tens a certeza?' Seguro, A diria: '- Infelizmente. E já não é a primeira vez. Aliás, até já o vi a sair do 18. '- Do 18?! Ena, pá, coitado do B. Ainda se fosse do 35.' '- O que é que tem o 35?', pergunta A. 'Nada, é um bocadinho melhor, sempre passa na Avenida de Roma. Porquê?' '- Por nada, eu não ando de autocarro, sabes bem que eu não ando de autocarro.' 'Olha lá, mas 'tás bem informado, para quem não anda de autocarro...' '- É pá, a Carris para mim é uma espécie de fétiche.' '- Mas o que é que isto tem a ver com sexo? Tu consegues meter sexo em tudo.'

12.7.08

9.7.08

6.7.08

LM

Com a excepção recente de um dia de publicidade, desde Novembro que não ponho os pés numa rodagem. Amanhã começo um filme, onde vou fazer anotação. Voltam os dias longos, as noites e os cafés curtos, sempre sem açúcar. Volta a sensação dos limites, voltam as barracas, voltam os palácios, volta o vento e as altas temperaturas, volta o ar da madrugada, volta o cinema, volta a minha vida. Um amor de verão. Esta noite não vou dormir quase nada. À bientôt.

a avioneta

'Um dia ponho a mochila às costas e vou conhecer o mundo.' Sinceramente! Mas quem é que lá nos cafés Nicola conhece o mundo?! E com quem é que pensam que estão a falar? Eu já não tenho idade para inter-rails. E mais: quando tive também não fiz inter-rails nem meios inter-rails. A gente lá em Évora ia à piscina municipal, que tinha uma avioneta avariada no meio da relva e pronto, estava a viagem feita. Agora andar de mochila às costas...Eu levava uma sandes num saco de plástico e, antes de comer a sandes, fazia a piscina olímpica como quem atravessa o canal da Mancha, só que mais depressa. 'A viagem é o viajante', disse o nosso homem em Durban (não os cafés Nicola). Quem sou eu para o desmentir?

5.7.08

lapsus linguae (1)

Estava frio. Naquela noite estava tanto frio que ela debatia o dente.

4.7.08

NÃO ME DEIXES

Porque partes, assim, - amor tão caro -
Se tenho em minhas mãos as tuas vestes?
Para onde diriges teu olhar?
Não lastimo que venhas cedo ou tarde,
Pois apenas é mágoa que haja alguém
Que ocupe, em teu amor, o meu lugar.

Meng Xiao
(751-814)

Trad.: Francisco de Carvalho e Rego

Rosa dos Ventos, Assírio&Alvim

3.7.08

convite

Acabei de ligar a Castafiori. Estava evasiva. Estranho. Que se passará com Castafiori? Nada como uma imperial ao fim da tarde. Convidei-a. Aceitou. Não lhe disse que era para comer caracóis.

Já estou a ver a cara de enjoo. Só a palavra a indispõe. E onde? Num dos cafés do triângulo dourado, responderei. Mas isso são tascas com esplanadas e bandeiras portuguesas ao vento. Que enjoo. Cara Casfariori, esta é a minha rua, este é o meu mundo. Ela dir-me-á, já a descer as escadas, 'não vai começar com a ladainha neo-realista, pois não? Até parece que mora numa barraca.'

Calar-me-ei, então. Quando chegar ao café do Sr.Vic pedirei um prato de caracóis e uma imperial. Nessa altura ouvirei de novo a voz timbrada de Castafiori : 'Para mim, um chá de rosas.' Quantas vezes é preciso dizer-lhe, Castafiori, que no café do Sr.Vic não se serve chá de rosas?!

2.7.08

encontros perfeitos?

Hoje saiu-me um repetido.

1.7.08

declarações não-electrónicas (1)


'Nunca como peixe congelado'
este é o género de coisas que as pessoas dizem depois de muito reflectirem (só pode ser)