31.10.09

paradis.9.


IMG_5430a.jpg© fatima ribeiro 2009

30.10.09

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IMG_5368a.jpg© fatima ribeiro 2009

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IMG_5326a.jpg© fatima ribeiro 2009

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IMG_5176a.jpg© fatima ribeiro 2009

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paradis.1.



IMG_4934.JPG© fatima ribeiro2009

a esteira

Só há uma coisa que Castafiori odeia tanto quanto as comédias: o sushi. Para começar, detesta a mostarda wasavi. Para começar, não está mal. Depois não pode com aquela algazinha preta. Ninguém imagina como a enerva a algazinha. A única coisa a que Castafiori admite achar graça é à esteira, 'esteirinha' como ela diz.

21.10.09

audio

Pombos na rua, gatos nas traseiras e no café uma torrada a sair e na minha imaginação pouca terra pouca terra pouca terra. Recuo sem parar.

20.10.09

estação das chuvas

Está a chover. Não se fala noutra coisa.

19.10.09

o sonho

Ontem de manhã lembrei-me de lhe telefonar. Mais valia que não me tivesse lembrado. Foi uma imprudência, eu sei, mas não podia adivinhar. Percebi-o assim que ouvi Castafiori do outro lado do telefone: "- Estava a sonhar com Nova Iorque", disse-me ela com voz de domingo à tarde . Dentro da minha cabeça ainda hesitei, mas as palavras já estavam no ar, previsíveis como a água que chega à foz do Hudson : "-Mas você nunca esteve em Nova Iorque", ao que ela ripostou triunfal: "- Mas vejo muita televisão".

16.10.09

mensagem em onze palavras

três latas de atum, três sílabas; juntar as claras em castelo

15.10.09

FOLHA

Mudei de estação: o Outono ficou para trás e as minhas malas.
Agora o céu é duvidoso, como uma mentira inábil.
Na primeira taberna terei de esquecer
A carta melancólica que me tirou o sono.
Ocioso, arrasto-me pela rua, entre escritórios.
As andorinhas partiram e as máquinas de escrever ficaram.
No horizonte há uma grande trombeta de fumo.
Foi há pouco inventado um avião tão pequeno como uma borboleta.
Bravo! É um bom sinal.
A primeira folha de Outono cai no meu chapéu.

RADE DRAINAC
Sérvia, 1899-1943

Trad.: J.A.Oliveira
"Rosa do Mundo"
Assírio&Alvim

14.10.09

com a janela aberta

As pessoas não estão habituadas a que se diga: 'não, não é essa a pergunta'. Erradas só as respostas. Ou então dizem 'não é essa a pergunta' mas apenas para escolher a pergunta que caiba na sua resposta. Não deixam de ter uma certa razão. Porque uma outra atitude exigiria ter de começar pelo princípio e, muitas vezes, o princípio já não existe. É preciso, então, inventar outro princípio. E isso ainda dá mais trabalho.

9.10.09

visões subterrâneas




IMG_4329.JPG/IMG_4355.JPG/
IMG_4376.JPG/IMG_4379.JPG© fatima ribeiro2009

8.10.09

que confusão!

estranha impressão esta de fotografar a preto e branco em digital: o display está a preto e branco e uma pessoa olha para o objecto fotografado, olha para quem está ao lado, olha para quem está atrás, imagina quem vai chegar e tudo é a cores, nada é a preto e branco. nada excepto o display da máquina; vou tentar explicar.

hoje pela primeira vez fotografei a preto e branco com uma máquina digital. claro que já o tinha feito em película. a última vez há exactamente dez anos, no funeral de Amália. desde então, raramente fotografei em película. aliás, antes do digital, raramente fotografava o que quer que fosse. entretanto, as minhas gatas, uma delas ou as duas, não sei, resolveram o assunto por mim, e pim, pam, pum, deitaram a máquina ao chão. quilharam a objectiva, nobre nikon. não lhes perdoei completamente, mas hoje reconheço-lhes alguma razão, uma sabedoria no gesto, digamos. rendi-me ao digital. mas sempre a cores. excepcionalmente, terei passado uma ou outra para preto e branco à posteriori.

um dia destes pensei, soterrada numa nostalgia bem comportada: tenho saudades do preto e branco, vou tirar umas fotografias a preto e branco na digital, deve ser giro. foi hoje. procurei no menu e mudei o menu. eis-me então à janela, virada para as traseiras, com uma correnteza de casas, de sol, de nuvens, de roupa estendida e um assobio masculino e luminoso nuns andaimes mais abaixo. uma cena lisboeta. tirei umas fotografias e logo aí comecei a sentir-me muito esquisita, mas mesmo muito esquisita. olhava para o display da máquina e faltava-me o azul do céu, o branco das parabólicas, o traço a verde das escadas de serviço, faltava o armazém, e até os gatos vadios se tinham escapado sem um olhar.

na máquina convencional, pelo visor eu via as cores, e se olhasse para o lado, para cima, ou se fechasse os olhos, eu continuava a ver a cores. só depois via a preto e branco o que a película tinha registado. na digital, pelo display, eu vejo logo a preto e branco, tudo e todos, não me posso queixar, mas a realidade apresenta-se logo transformada e eu transtornada, para me ficar pelo fim do alfabeto.

apanhei o metro turvo e disparei, disparei e voltei a disparar. sempre a preto e branco, e sempre a verificar o que já sabia que ia encontrar: tudo estava a preto e branco e, todavia , eu via a cores, eu vejo a cores. quero explicar e não consigo, é estranho, não tem importância, é infantil, como repetir palavras até à exaustão, até que percam o sentido, desassossega, faz-nos duvidar. experimentem. é quase kafkiano.

7.10.09

duas páginas

Hoje virei duas páginas na minha vida. A primeira, quando deitei fora os cupões de desconto do minipreço, meses de agosto e setembro, e que muita corrente de ar apanharam à entrada da porta. A segunda, quando mudei a lâmpada do tecto do meu escritório. Estou à espera do resultado dos testes com carbono 14 para saber quanto tempo o tecto esperou para estar iluminado. Isto - duas páginas num dia só - pode querer dizer duas coisas: ou que a minha vida vai mudar ou que eu vou mudar a minha vida.

6.10.09

pólo

A quantos quilómetros fica o círculo polar ártico? Quando lá chegar hei-de ouvir o vento, tenho quase a certeza que vai fazer uma ventania desgraçada, e hei-de levar uns phones também. Uns phones não pesam quase nada e Deus queira que eu não me esqueça deles porque quando lá chegar hei-de ouvir a Amália cantar e sempre é melhor ouvir a Amália cantar nos phones do que só dentro da minha cabeça, porque quando lá chegar, que disso não restem dúvidas, a Amália vai comigo. A Amália vai comigo para todo o lado.

2.10.09

preferências

Sempre preferiu o sol à lua, o verão ao inverno, o café ao chá, os cães aos gatos, a tempestade à neblina -, mas gostava de ver o outono a aproximar-se.

1.10.09

novas oportunidades

"Votou e andou" foi o que eu escrevi sobre mim mesma - na terceira pessoa, como fazem os jogadores de futebol nas conferências de imprensa e os utilizadores do Facebook para descrever o seu estado -, domingo passado, dia de eleições. Votou e andou. Esta frase teve algum sucesso junto dos meus amigos.

Os galos não são modestos. Pelo menos, os do horóscopo chinês. E das capoeiras que conheci - evoco aqui as minhas origens rurais - não recordo, de facto, galos modestos. Nós os galos não somos modestos. Não é, pois, de admirar que tenha pensado que ali estava um slogan quase perfeito. Votou e andou.

Talvez a explicação esteja no facto de me ter tornado espectadora agradecida da série "Mad Men", que o canal 2 transmite nas noites de sexta-feira. Talvez o meu agradecimento revista a humana forma da imitação. O certo é que dei por mim ontem, no intervalo de um desafio de futebol, a fazer zapping e depressa cheguei a um produto impossível: como publicitar, junto duma audiência portuguesa, um canal russo sem legendas? "Veja o canal vesti e não diga que vai daqui. Posição 236 na zon tvcabo. Quem está zon está mesmo zon". Agora é só trabalhar na ideia. Não faltarão compradores, tenho a certeza.