27.7.11

envoie-moi une carte postale

Parto depois de almoço e fantasio sobre o que deixo. O que vou encontrar não me interessa. Mas admito escrever um postal platónico. Escrevo-te daqui, hoje está a chover, nem sabes quantas saudades. Um postal é leve como uma flor seca, mas sem drama implícito, o que é um descanso. Poderei firmá-lo com um beijo electrónico. Eu gosto de beijos electrónicos. Não quero dizer que não goste de beijos não electrónicos. Cada coisa tem as suas vantagens e as suas desvantagens. Mas não sei como chamar aos beijos que não são electrónicos. Não poderei dizer simplesmente beijos. Alguém disparará de imediato: electrónicos? Então, chamo-lhes como, analógicos? Parece-me ouvir, Já te devias ter calado. Já me devia ter calado? Sim, talvez já me devesse ter calado, talvez seja a minha própria voz. A piedade é universal. O que é certo é ainda não me calei. Não me calei um segundo desde que disse, 'Tá bem, vou-me calar. Nem sei quando me vou calar. Não que eu queira fugir às minhas responsabilidades, não quero de maneira nenhuma fugir às minhas responsabilidades, e não fugirei, cada qual tem as suas responsabilidades, sempre achei que cada qual tinha as suas responsabilidades, não é agora que vou mudar e pensar que cada qual não tem as suas responsabilidades, mas acho que a culpa é do Heiner Muller. Sinceramente. "Não se pode deixar uma mulher sozinha".

26.7.11

janela de oportunidades

eu e a minha vera estamos as duas viradas para a janela com muita, muita atenção: ela a ver passar os pombos, eu nem sequer os comboios. de vez em quando uma de nós estremece, ela por causa de um voo rasante, eu por causa do que não acontece. já passa do meio-dia. anda vera, vamos fazer o almoço.

25.7.11

Dirás que estou a repetir...


In order to arrive at what you do not know
You must go by a way which is the way of ignorance.
In order to possess what you do not possess
You must go by the way of dispossession.
In order to arrive at what you are not
You must go through the way in which you are not.
And what you do not know is the only thing you know
And what you own is what you do not own
And where you are is where you are not.
Para chegares ao que não sabes
Deves seguir por um caminho que é o caminho da ignorância.
Para possuíres o que não possuis
Deves seguir pelo caminho do despojamento.
Para chegares ao que não és
Deves cruzar pelo caminho em que não és.
E o que não sabes é apenas o que sabes
E o que possuis é o que não possuis
E onde estás é onde não estás.
(dos Quatro Quartetos - T.S.Elliot) 


22.7.11

na lagoa







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12.7.11

ah, a europa, a europa

as pequenas economias europeias são postas a pão e água. a terceira maior acaba de entrar no circo. a maior do mundo vê o seu estado federal correr riscos de incumprimento. apesar disso, muitos continuam a defender que a solução está na contenção orçamental. e, quem contesta, como eu, continua a imputar a responsabilidade à incompetência dos políticos. terão uns e outros razão. mas não sobre esta crise. o capitalismo sufoca no seu próprio vómito. não é a primeira vez, é certo, mas uma será a última.

os europeus, construtores de civilizações, são como borboletas à volta da luz. século após séculos, queimando as asas. morrer sim mas no espanto. é o que eu acho desta merda toda.

11.7.11

maneiras

almocei mal: não tirei os cotovelos da mesa

7.7.11

quando saio de casa










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6.7.11

a coleira, um problema

Encontrei uma coleira de cão. Mas sem cão. A pergunta impôs-se: poderá uma coleira de cão continuar a ser coleira de cão sem o cão? A este respeito a comunidade científica divide-se entre duas tendências: a tendência canina e a tendência canónica. Não há lugar para independentes, avisaram-ne. Eu sorri, mostrando os dentes.

4.7.11

alfazema

Castafiori visitou-me. Trouxe-me um ramo de alfazema. Do quintal da sua mãe, perguntei eu. Do jardim, corrigiu ela.