27.7.11

envoie-moi une carte postale

Parto depois de almoço e fantasio sobre o que deixo. O que vou encontrar não me interessa. Mas admito escrever um postal platónico. Escrevo-te daqui, hoje está a chover, nem sabes quantas saudades. Um postal é leve como uma flor seca, mas sem drama implícito, o que é um descanso. Poderei firmá-lo com um beijo electrónico. Eu gosto de beijos electrónicos. Não quero dizer que não goste de beijos não electrónicos. Cada coisa tem as suas vantagens e as suas desvantagens. Mas não sei como chamar aos beijos que não são electrónicos. Não poderei dizer simplesmente beijos. Alguém disparará de imediato: electrónicos? Então, chamo-lhes como, analógicos? Parece-me ouvir, Já te devias ter calado. Já me devia ter calado? Sim, talvez já me devesse ter calado, talvez seja a minha própria voz. A piedade é universal. O que é certo é ainda não me calei. Não me calei um segundo desde que disse, 'Tá bem, vou-me calar. Nem sei quando me vou calar. Não que eu queira fugir às minhas responsabilidades, não quero de maneira nenhuma fugir às minhas responsabilidades, e não fugirei, cada qual tem as suas responsabilidades, sempre achei que cada qual tinha as suas responsabilidades, não é agora que vou mudar e pensar que cada qual não tem as suas responsabilidades, mas acho que a culpa é do Heiner Muller. Sinceramente. "Não se pode deixar uma mulher sozinha".