28.4.05

o IVO FERREIRA está preso no Dubai/cronologia dos acontecimentos

O Ivo Ferreira, realizador português de 29 anos, filho do actor e encenador Cândido Ferreira, está preso no Dubai por consumo de haxe. A situação dura quase há um mês, e apesar das diligências da família e de outras pessoas, nomeadamente e desde a primeira hora do Joaquim Leitão, o Ivo continua preso, preso e só, num país que começou para ele por ser um país de esperança e se está a revelar agora um país incompreensível, como incompreensível se está a revelar as autoridades do seu próprio país, tão lentas e hesitantes a agir, apesar de, por exemplo, ser tão gritante a desproporção entre os factos de que é acusado e a situação de detenção prolongada e, no domínio das provas, a ausência de garantias de contraditório. Dado estes e outros contornos de ordem civilizacional e política, que tornam ainda mais insuportavelmente precário o equilíbrio pessoal do Ivo, peço a todas as pessoas que possam directa ou indirectamente ajudar a ultrapassar esta situação que o façam.
cronologia dos acontecimentos:
5/Abril - detenção do Ivo no Dubai (onde Portugal não tem embaixada)
7/Abril - no Dubai,  os amigos tomam  conhecimento da detenção, i.e, o Ivo é mantido incomunicável 3 dias; os amigos telefonam para o Negócios Estrangeiros e pedem para que a família do Ivo seja avisada;
9/Abril -  a família contacta o Gabinete do Secretário de Estado das Comunidades;
10/Abril - o Embaixador português na Arábia Saudita (encarregue do assunto) diz que tomou conhecimento do caso;
16/Abril - o Embaixador desloca-se à prisão;
18/Abril - o Embaixador entrega o relatório da sua intervenção;
19/Abril - com o fim de se obter um pedido de clemência, uma exposição do caso dá entrada no gabinete do Primeiro-Ministro;
27/Abril - o Ivo é interrogado no Dubai pelo Procurador e, a pedido do Embaixador português, é visitado pelo Embaixador de Espanha;
28/Abril,hoje - continua-se sem notícias positivas e a família do Ivo resolve tornar público o seu caso.

22.4.05

a dois passos

hoje tenho de ver o mar

21.4.05

sondagem

Ontem de manhã, na pastelaria:

- Eu logo vi! Eu logo vi! Assim que ele chegou à janela, logo achei que era muito simpático!
- Os alemões costumam ser muito simpáticos...

Entra na pastelaria uma outra cliente e atira para o ar, antes mesmo de dizer qualquer coisa parecida com bom dia:

- O que é que vocês acham do nosso Papa?

17.4.05

em duas palavras

Tudo se passa numa paragem de autocarro, entre a Rosário, uma mãe e dois filhos. Um deles - Artur , de seu nome, com 6 anos de idade e um azul-esverdeado nos olhos - frequentou o infantário onde a Rosário trabalha, numa zona quente da cidade. Ao vê-los, e há que tempos os não via, pois, entretanto, a família mudara-se, a Rosário pergunta, confessou-me ela que com algum contentamento, se assim se pode chamar ao olhar sorridente com que as duas partes se encararam:

- Então, já não está em Campolide, mora outra vez aqui ?!

Enquanto a mulher procura um nadinha transtornada as palavras no meio dos sacos pousados sobre o banco escavacado da paragem, ao jovem Artur as palavras saem-lhe ligeiras e breves:

- Fomos corridos!

11.4.05

segunda-feira, dia de folga


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8.4.05

noite americana


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7.4.05

hoje há muito mar

Conversas de donas de casa. Esta manhã, na pastelaria:

- Hoje há muito mar.
- O mesmo que ontem...
- Ontem não o ouvia, e hoje ouço-o lá na minha casa.
- Foi o vento que mudou.
- Vento norte ou nordeste?

6.4.05

o farol visto da praia do norte


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com uma ligeira névoa, eram sete e tal da tarde, depois de ter sabido o que era o jantar: croquetes com arroz de cenoura. acho que prefiro os restos do almoço se ainda houver: entrecosto no forno. evidentemente há uma hipótese bem mais radical. e vou parar com isto dos croquetes e das névoas, porque o que eu tenho na cabeça é o suicídio da rapariga de 22 anos, hoje, aqui, bem perto da praia do norte.

4.4.05

orgulho e preconceito

Passei a tarde a tratar da minha viagem a África. Gosto de referir-me assim às 7 semanas que em Moçambique vou passar a trabalhar. Passaporte, visto e vacinas. Cheguei ao Instituto de Medicina Tropical quase em cima das 5. Estacionei com sorte e a ajuda de um dos três arrumadores presentes naquela dúzia de lugares. Retribuí com os meus mais sinceros agradecimentos e cinquenta cêntimos.

Corri até ao Instituto, preenchi uma ficha, paguei e deram-me uma das vacinas. Tudo estava a correr como o planeado. Só me faltava ir receber um trabalho que estava a pagamento também ali na Rua da Junqueira. Fui a pé.

Quando voltei ao local de estacionamento, tinha-se passado uma hora, mais minuto menos minuto. Procuro as chaves na mala e sou interrompida por um dos arrumadores que me chama. Não o meu arrumador, mas um rapaz de cabelo claro e um blusão verde garrafa. Vejo-o agitar algo e reconheço logo a seguir o porta-chaves vermelho com o símbolo da Renault, comprado numa loja de indianos aqui ao pé de casa. Mas não nos dispersemos.

Tinha sido o condutor do carro ao lado a dar pela chave na porta, e acrescentará o rapaz: pouco depois da senhora ter atravessado a rua. Como eu não aparecia, já estavam um bocadinho aflitos. Talvez tenha sido por isso que senti, não sei, alegria ? na forma como o rapaz de verde me chamou. Não que não tivessem tudo previsto, no caso de eu não aparecer. Se eu não aparecesse: a) entregavam a chave à guarda do segurança do hospital ali em frente; b) deixavam-me depois um recado no carro a explicar o sucedido. Muito e muito obrigada e depois bebam uma cervejinha por conta da casa. Obrigada, rapazes. E enquanto fazia a manobra para sair dali, sempre com a ajuda diligente do par, um deles, o que não estava de verde, ainda declarou orgulhoso: isto é para a senhora ver que os arrumadores não são o que dizem por aí!

Foi um fim de tarde feliz para todos. Acho eu. Eu livrei-me de boa, eles sentiram-se, não sei como dizer, pareceu-me que por momentos pairou por ali o lema da revolução francesa. Não sei quanto tempo vão vocês viver, aliás, tão pouco sei quanto tempo vou eu viver. Mas quando passar na Rua da Junqueira hei-de levantar a mão e dizer: olá, rapazes. E agora vou ouvir talvez Radio Head, Doves, sei lá, se for preciso Sonic Youth, para compensar os violinos no céu. Ou então regresso ao Vou-me embora, um livro divertido que encontrei perdido no sofá da sala ontem quando regressei a casa. Amanhã já cá não estou.

3.4.05

na beira da estrada


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2.4.05

junto ao farol


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1.4.05

citações em cadeia

Para onde ir agora, pergunto, depois de não possuirmos em nós a soma bastante de delírio? A verdade é uma agonia sem fim. A verdade deste mundo é a morte. Precisamos de escolher: mentir ou morrer. E eu nunca consegui matar-me.

Viagem ao Fim da Noite
Céline

citação encontrada em Onde está J?, de Julieta Monginho, que também cita Conrad, citado, por sua vez, em Os Papéis do Inglês, de Ruy Duarte de Carvalho :

Compreender num clarão de luz que não se alcança a felicidade através da moral. Esta revelação foi terrível. Viu que nada do que sabia importava minimamente. Os actos dos homens e das mulheres, o êxito, a humilhação, a dignidade, a derrota - nada disso importava. Não era uma questão de mais ou menos sofrimento, desta alegria, daquela dor. Era uma questão de verdade e de falsidade - era uma questão de vida e de morte.

Histórias Inquietantes
Conrad