31.1.08
a revolta
30.1.08
breve
quem dirá que a nossa vida é imortal?",
perguntei, e fi-lo afagar com as mãos
os meus fortes seios.
Yosano Akiko
(Japão, 1878-1942 )
trad: S.Leckert, Rosa dos Mundos, Assírio&Alvim
29.1.08
aluguer
25.1.08
24.1.08
o coração dos homens sensatos
(história lida ontem à noite, ao adormecer, numa introdução ao I Ching; depois admiro-me de andar com insónias)
23.1.08
chama
FILIACION OSCURA
No es el acto secular de extraer candela frotando una piedra.
No.
Para comenzar una historia verídica es necesario atraer en sucesiva ordenación de
ideas las 7 ánimas, el purgatorio y el infierno.
Después, el añelo humano corre el señalado albur.
Después, uno sabe lo que ha de venir o lo ignora.
Después, si la historia es triste acaece la nostalgia. Hablamos del cine mudo.
No hay antes ni después; ni acto secular ni historia verídica.
Una piedra con un nombre o ninguno. Eso es todo.
Uno sabe lo que sigue. Si finge, es sereno. Si duda, caviloso.
En la mayoría de los casos, uno no sabe nada.
Hay vivos que deletrean, hay vivos que hablan tuteándose,
y hay muertos que nos tutean, pero uno no sabe nada;
En la mayoría de los casos, uno no sabe nada.
JUAN SÁNCHEZ PELÁEZ
(Venezuela, 1922-2003)
22.1.08
obras nas escadas
"- Quem é?"
"- Sou eu, o afagador".
No instante seguinte sorrio e não por causa do sotaque africano.
16.1.08
contas de cabeça
6X9? Queres ver, 6X9? A catraia pega no telemóvel algures à sua espera, pareceu-me que à frente da máquina do totoloto, e responde pouco depois: 54. Assim não vale, olha a esperta. 'Tás a ver? Não sabe. De cabeça, não sabe, queres ver? A prova final ali estava, a um passo de ser pronunciada. 7X8? A cervejaria deserta naquele final de tarde, mas habitada por espíritos atentos, ficou suspensa desse golpe de magia que é um simples cálculo numérico. Sim, 7X8? Pois é, não sabe. Entretanto, eu própria dava voltas à cabeça, ora se 7X7 são 49, mais 7 são: 56, ouço o homem. Sem telemóvel. Nem máquinas, nem meio máquinas, era o que faltava. Agora uma coisa é certa, eu não sei bem o que lá andam a fazer. Dou-te um exemplo. Estudo do Ambiente. Nós dávamos Geografia, dávamos História, dávamos, bom, dávamos uma data de coisas. Agora compara lá. Ora isto é uma coisa que eu não admito, quer dizer, eu admitir, admito, mas cai-me mal, ó se cai.
15.1.08
14.1.08
vogais em Londres
NUMA FESTA EM LONDRES
Durante um minuto permanecemos desconcertadamente juntos.
Perguntas a ti mesmo em que língua hás-de falar-me,
ofereces, antes, uma cebola avinagrada num palito.
És jovem e talvez te esqueças
de que o Império vive
apenas nos sons puros das vogais que te ofereço
acima do ruído.
EUNICE DE SOUZA
Índia, 1940
ROSA DOS MUNDOS, Assírio&Alvim
11.1.08
10.1.08
esplanada
9.1.08
sobre o conceito (diários de Elf)
A palavra "petulante", usada pela primeira vez ao escrever a frase "sei ver quando uma Cliente é petulante", está riscada e substituida pela palavra "impertinente", que veio a ter o mesmo destino. Seguiu-se a palavra "presumida". Obviamente insatisfeita, Elf riscou "presumida", voltou ao início e escreveu "petulante". Se querem saber a minha opinião, Elf fez muito bem.
8.1.08
imagem
Então a minha imagem no espelho leva
as mãos à cabeça
E, paralisado de horror,
vejo no vidro escuro
as minhas feições a desfazerem-se.
Continuam a ser as mesmas
E no entanto são diferentes, terrivelmente diferentes
E não são mais semelhantes a mim mesmo
Que um ser vivo ao seu cadáver.
Ela abre muito os olhos
Olha-me fixamente e com um dedo
Ameaça-me e avisa-me.
FRANZ GRILLPARZER
7.1.08
Neujahrskonzert
Mas antes da nota de cinco euros estar sobre o balcão, ouvi a mais velha: "- Olha, ópera". A mais nova olhou para a televisão junto ao tecto: "- Isto não é ópera". A mais velha não ligou e disse à dona do café "um kit kat, se faz favor", mas é evidente que tinha ficado a matutar no assunto porque ripostou: "- Ai não? Então o que é? Se não é ópera, é o quê? Opereta, se calhar é opereta...".
A mais nova, talvez levada pelos violinos incessantes, voltou os olhos para a televisão e pegou no chocolate: "-Posso abrir, mãe?". Parecia ter-se desinteressado. Ficaram as duas a olhar para a televisão e os votos de paz mundial começaram ali mesmo, entre as duas, mãe e filha. Este estado foi contagiante ao ponto de me fazer entrar numa zona crítica, com a minha memória a vacilar agora, contra mim falo, mas não posso garantir qual das duas disse "isto é um concerto". Sei que se riram bastante e a mãe aproveitou e reincidiu: "isto é ópera".
A filha ia no segundo kit kat, que parece ter funcionado como uma espécie de musa, às vezes basta uma coisinha para uma pessoa desbloquear, está visto. Disse: "- É uma valsa. Quer, mãe?" e só nessa altura é que terá reparado que a mãe já não está ao seu lado mas a dois passos da porta, e o mais provável é que não a tenha ouvido. Dá uma última olhadela para a televisão, talvez para se certificar de alguma coisa, não faço ideia de quê, talvez pelo prazer nostálgico do que não viveu, como costuma acontecer com o som do violino. Ainda a oiço dizer entre a porta e a rua: "-É ópera, sim senhora, mãe, tem razão, é ópera".
4.1.08
3.1.08
2.1.08
1.1.08
o punhal
um punhal atravessasse o corpo.
Um menino foi, chegou perto da cigarra, e disse que
ela nem gemia.
Verifiquei com os meus olhos que o punhal estava
atolado no corpo da cigarra
E que ela nem gemia!
Fotografei essa metáfora.
Ao fundo da foto aparece o punhal em brasa.
ENSAIOS FOTOGRÁFICOS
Manoel de Barros