30.4.10

confusão madrugadora

Ao estender a roupa numa madrugada quente, olhou para baixo e, do 3º andar, viu um rato no pátio de cimento. Só depois percebeu que era um pássaro. Isto não é nada poético.

29.4.10

ar abafado

está abafado, o ar cheio de pombos, e daqui vejo os segundos correr no cronómetro do relógio com o interesse de quem tem que fazer uma data de coisas e não sabe por onde começar; todavia, se voltar a olhar para lá, para a cronómetro desarrumado, não deixarei de perguntar: e nunca se cansa? o tempo nunca se cansa.

27.4.10

registo

Abro a janela e as gatas não aparecem. Preferem o edredon da cama. Vou tirá-lo hoje, o Verão está a chegar.

24.4.10

tai-chi

o tigre desce a montanha. hoje é dia mundial do tai-chi

indie

foi ao cinema e perdeu um brinco. ficou muito arreliada. dá alvíssaras a quem o encontrar. era preto.

19.4.10

inícios (25)

Hoje, a mãe morreu. Ou talvez ontem, não sei bem. Recebi um telegrama do asilo: "Sua mãe falecida. Enterro amanhã. Sentidos pêsames." Isto não quer dizer nada. Talvez tenha sido ontem.
O ESTRANGEIRO
Albert CAMUS

9.4.10

"se eu pudesse desamar"

Se eu pudesse desamar
a quem me sempre desamou,
e podess'algum mal buscar
a quem me sempre mal buscou!
Assi me vingaria eu,
se eu pudesse coita dar,
a quem sempre coita deu.

Pero da Ponte
lido em "Direito e Literatura", almedina, 2010

8.4.10

inventário (6)

um compact flash, de 256mb, usado na minha primeira máquina digital, uma coolpix 2000, um rádio philips em portalegre comprado, onde eu oiço agora o pomar das laranjeiras, que voz, e sempre a janela da gata, a minha vera, na minha frente

7.4.10

inventário (5)

comprimidos revestidos (ainda válidos), um relógio (com cronómetro) made in china, um mapa (de áfrica) a cair da parede e tudo lá fora me espera esta manhã (penso com optimismo)

6.4.10

inventário (4)

sangue seco, sangue antigo, acumulação de pó, um lápis faber-castell mordido na ponta por um gato entediado, mais um post-it que diz "gravar a paixão segundo s.mateus"

5.4.10

domingo de páscoa

finalmente é primavera e adormeci na relva da gulbenkian. era domingo de páscoa ontem à tarde. havia famílias e namorados, patos em terra e pombos a esvoaçar, também havia rapazes atrás dos mosquitos junto ao lago e meninas com panamás que caiam das cabeças quando corriam. acordei com o sol a descer das oliveiras, nessa altura já tinha ouvido várias vezes o samba de uma nota só. apanhei o metro e duas estações depois entrei em casa - são os benefícios da ampliação da linha vermelha.