30.9.11

a semana passada

28.9.11

entre outras

Nos nossos dias, as pessoas carregam sacos de plástico para pôr no lixo sacos de plástico e usam com muita convicção e pundonor as palavras "confortável", "inspiração" e "narrativa".

27.9.11

setembro sem paciência: déficit, dívida, dependência

As dívidas sempre foram boas oportunidades de negócio. Neste início de século, as dívidas públicas são mesmo o grande negócio. Basta consultar as taxas de juro. A conversa sobre a "culpa" do estado social uma forma de sustentar o negócio. Basta consultar as taxas de juro.

26.9.11

setembro sem paciência: fama

"Actriz não prescinde de momentos a dois com o marido."
(lido no correio da manhã; fico a aguardar:)
"Actriz não prescinde de momentos a três com o marido."

25.9.11

domingo no museu, MNAA





23.9.11

aventuras

Ando a experimentar coisas novas. Ontem foi mousse de maracujá.

22.9.11

ponte, bridge, bruck, bruge, brygga, brydze

E ali estava. No meio de uma tempestade em directo. Por pudor, tirou o som ao aparelho. Ficou a ver-se. Não percebeu imediatamente que era um erro. Mas o mais importante no erro - ah, pois -, é a verdade. Cada vez que desviava o olhar, podia pensar. Enquanto olhava directamente para si, no meio da tempestade, só podia sentir. E sentia um tremendo desamparo. O desamparo parece sempre que não vem de lado nenhum, mas vem. O desamparo tinha vindo colado ao impacto. Tinha sido brutal. Mais tarde, já o sabia, viria a compaixão. Era preciso prevenir a compaixão. Não fora possível prevenir o impacto nem o desamparo, mas era possível prevenir a compaixão. Era preciso desviar o olhar. Custasse o que custasse, pensou. Custasse o que custasse. Foi nessa sequência de acontecimentos mentais que suprimiu o som. Agora podia pensar. O som torna o olhar contagiante. Se era preciso suprimir o som, que se suprimisse o som, zás, muet, mute, muto, stumm. Sem som podia desviar o olhar. E desviando o olhar, podia pensar. Passou a noite nisto. Aquela noite.

Tinha os olhos um bocado inflamados por causa do raio da tempestade. Teve de chorar para aliviar a inflamação dos olhos. Chorou de olhos abertos e de olhos fechados. Mas a noite não foi passada a chorar. A noite foi passada no meio da tempestade. É bom que o que aconteceu seja contado como aconteceu. Umas vezes sentia, outras pensava. E tanto precisou de chorar por causa de sentir, como por causa de pensar. Não é novidade para ninguém, as lágrimas tanto chegam duma maneira como doutra. São assim os olhos debaixo das tempestades. Sturm, storm, szturm. Foi anotando mentalmente as conclusões. Escrevê-las-ia mais tarde. Sim, a tempestade havia de passar. E quando passasse, e passou, passará, passaria a forma de letra o que tinha passado. Porém, ainda hesitou. Talvez fosse melhor não tolerar esse género de conclusões. Tolerância zero como uma operação policial. Destruí-las-ia como provas obtidas sem autorização. Estavam contaminadas pelo Sentimento. Mas desde quando a memória é um sentimento? Socorreu-se de várias fontes, documentou-se. E descobriu, por exemplo, que em alemão pensar se diz denken e lembrar gedenken, e remomorar, eingedenker, e recordação andenken. Não, a memória não é um sentimento.

Quando passou a letra o que pensou durante a tempestade, escreveu no início do primeiro parágrafo, Da mesma forma que as pontes não podem ser estruturas rígidas, a clareza precisa de sombras. E continuava, A ausência de sombras retira-nos um ponto de abrigo. Um ponto de abrigo é um sítio onde se pode pousar as mãos sobre os joelhos flectidos, inclinar a cabeça e, por um momento, fechar os olhos. E mais adiante, O excesso de clareza assemelha-se a um jogo de squash. Deixa-nos exaustos. No segundo parágrafo, o assunto era retomado, O excesso de clareza impede qualquer possibilidade de ajustamento se, por acaso, ou sem ser por acaso, tanto faz, mudarmos, ainda que ligeiramente, o ponto de vista. Um ponto de vista é o tempo e o lugar donde levantamos a cabeça.  Ficamos atónitos.

Era tudo. Foram estas as suas primeiras conclusões. Depois, a lápis -  para quem gosta de detalhes, um lápis afiado -, estava escrito em letra assaz irregular, Pela manhã, tinha conseguido virar-me uns tantos graus. Já não apanhava o vento de frente. Com o vento pelas costas, e ignorando a raíz das palavras, pensei, Que puta de ventania que está em cima desta puta desta ponte.

Mas era preciso caminhar. As pontes servem para isso. Para não parar.
As chamas, lá atrás, continuarão a dar cabo de tudo, até não haver sentimentos.

21.9.11

aquário

No domingo passado, estando chateada, e estava chateada há quase uma semana, telefonei a Castafiori. Ela ouviu, ouviu e disse, lapidar, Eu tinha-a avisado.

Era verdade, ela tinha-me avisado. A partir daqui, preparei-me para continuar a ouvir-la. Mas só ouvi o silêncio. O silêncio vagueou num movimento sem qualquer urgência, e antes de se tornar mero resíduo electrónico foi quebrado. Castafiori perguntou, com precisão ostensiva, Sabe que agora tenho dois peixes? Quase por cortesia, mostrei-me interessada, E como são? Ela respondeu, readquirindo o tom leve e ensonado de outros domingos, Encantadores.

20.9.11

escaladas




19.9.11

setembro sem paciência: mainstream

Estou por aqui de twists, bang, bang, bang, canecas de café, cabeças quentes, comboios a cairem-me em cima, incluindo dinossauros filosóficos, feridas narcísicas, smile, smile, smile, bandas sonoras para abafar o som das pipocas, botox, block quê? "Aqui" é a ponta dos cabelos. E também estou por aqui com a quantidade de pessoas à minha volta dispostas, sabendo ou não sabendo que o fazem, a defender o cinema como uma arte menor. E, se calhar, é.
Está visto, é segunda-feira de manhã, preciso de cortar o cabelo. Amanhã sem falta.

16.9.11

sábado, fanfarra e fogo




IMG_3837.JPG©fatimaribeiro​ 2011, IMG_3829.JPG©fatimaribeiro​ 2011, IMG_3847.JPG.JPG©fatimaribeiro2011, IMG_3932.JPG©fatimaribeiro​ 2011

como um relógio suiço

"O horário é de hora a hora às meias horas."

15.9.11

areia

se eu estiver nove anos virada para uma parede, vou esquecê-la em cada grão de areia

14.9.11

achados e perdidos

perder um caderno é uma grande chatice, encontrá-lo uma espécie de alegria, paredes meias com a vergonha de o ter perdido

13.9.11

senso

se tivesse morrido ontem, enfim, há dias em que até a própria pessoa admite o destino, seria, de qualquer forma, de morte violenta, e a autópsia seria obrigatória e, para a posteridade, cabalmente identificada seria a causa de morte: estupidez

antes do outono chegar





12.9.11

inesquecível

hoje foi um dia para sempre

setembro sem paciência: pós

"O pós-modernismo é muito bom porque é uma noite em que todos os gatos são pardos. Confesso que para mim ainda não saimos disso a que se chamou "a condição moderna". Ela corresponde justamente à dificuldade de encontrar mestres. Mas parece que há uma tendência do ser humano para os encontrar e há uma experiência de abandono. Abandono daquilo que nos poderia orientar sem ter de fazer muitas perguntas."

Maria Filomena Molder, lido em papel, mas onde?

7.9.11

a poesia como arte marcial

nadar num rio de ar, contemplar o oceano que vai para oriente, trepassar o lótus,  pedir ao céu que indique o caminho - retomei as aulas de tai-chi. a porrada precisa de poesia.

6.9.11

não

Porque é que há sempre alguém que diz não?

5.9.11

correio

Porque é que o carteiro toca sempre duas vezes?

2.9.11

práticas

Porque é que, em qualquer estabelecimeto comercial, quer gastes 5, queres gastes 50, te perguntam sempre, É só?

1.9.11

havaianas

Porque é que em Portugal se usa tanto chinelo com a bandeira do Brasil?