7.1.08

Neujahrskonzert

Faz amanhã oito dias. Orquestra Sinfónica de Viena na tv. Concerto de ano novo, etc e tal. Já o maestro tinha exibido a bola de futebol do euro 2008, já os violinos valsavam, já Strauss tinha tomado conta da tarde, quando elas - eram duas, mãe e filha, vim a saber depois - deixaram a esplanada, onde cada qual tinha fumado o seu estóico cigarro, e entraram no interior do café para pagar e pagaram.
Mas antes da nota de cinco euros estar sobre o balcão, ouvi a mais velha: "- Olha, ópera". A mais nova olhou para a televisão junto ao tecto: "- Isto não é ópera". A mais velha não ligou e disse à dona do café "um kit kat, se faz favor", mas é evidente que tinha ficado a matutar no assunto porque ripostou: "- Ai não? Então o que é? Se não é ópera, é o quê? Opereta, se calhar é opereta...".
A mais nova, talvez levada pelos violinos incessantes, voltou os olhos para a televisão e pegou no chocolate: "-Posso abrir, mãe?". Parecia ter-se desinteressado. Ficaram as duas a olhar para a televisão e os votos de paz mundial começaram ali mesmo, entre as duas, mãe e filha. Este estado foi contagiante ao ponto de me fazer entrar numa zona crítica, com a minha memória a vacilar agora, contra mim falo, mas não posso garantir qual das duas disse "isto é um concerto". Sei que se riram bastante e a mãe aproveitou e reincidiu: "isto é ópera".
A filha ia no segundo kit kat, que parece ter funcionado como uma espécie de musa, às vezes basta uma coisinha para uma pessoa desbloquear, está visto. Disse: "- É uma valsa. Quer, mãe?" e só nessa altura é que terá reparado que a mãe já não está ao seu lado mas a dois passos da porta, e o mais provável é que não a tenha ouvido. Dá uma última olhadela para a televisão, talvez para se certificar de alguma coisa, não faço ideia de quê, talvez pelo prazer nostálgico do que não viveu, como costuma acontecer com o som do violino. Ainda a oiço dizer entre a porta e a rua: "-É ópera, sim senhora, mãe, tem razão, é ópera".