26.7.08

no sinal

Lá estava ele do lado oposto da passadeira. Eu olhei-o da cabeça aos pés. Só para confirmar que a tradição ainda é o que era. Mas, é claro, o Puma Branca não estava sozinho. O Puma Branca nunca está sozinho.

Ora falava para a direita onde o comerciante chinês ajustava o mp3 aos ouvidos, ora dava um caldinho na cabeça do puto loiro, de calções e toalha ao ombro, pronto para desafiar o Oceano dali a hora e meia na Caparica. De manhã é que se começa o dia, parecia ser o pensamento que unia toda a rua. Havia no ar um cheiro a maresia, que é o género de cheiro que a palavra melhora, penso sempre. Pouco passava das oito da manhã. Há quem ache muito cedo para pensar.

Do lado de cá, vejo o chinês a decidir-se e tirar a porcaria do auricular. O puto ri-se e olha para o Puma. O Puma verifica os óculos de sol pendulados na gola da t-shirt à cava. O puto leva mais um caldinho. E explica-se. Deve-lhe estar a explicar que se rira do chinês, não dele, Puma, Puma Branca para mim, cujo nome civil desconheço em absoluto. Desvio o olhar para um autocarro. O autocarro abranda. Não por causa do meu olhar, mas por causa do sinal amarelo, concluo. Olho para o lado.

Ainda estava a olhar com cara de má para a romena que me pôs uma mão no ombro para pedir dinheiro quando o sinal abriu. Segundos depois, cruzavamo-nos todos na rua da maresia.