Madame Castafiore tem andado desaparecida. Entre projectos e prestações de serviços - e Madame Castafiore é uma mulher tanto duma coisa como doutra -, frequenta aos sábados, pela manhã, um curso de jardinagem.
Bem sei que nisso sai a sua mãe. Madame Castafiore gosta muito de plantas. Mas vivendo ela num terceiro andar e estando provado que o saber ocupa lugar, por que raio andará Madame Castafiore num curso de jardinagem, pensei.
Ontem falei com ela. Já sabe o que são canas índicas. Mais. Sempre que no curso falam dos ladrilhos e da areia vinda dos rios que cobrem o fundo dos vasos, vem-lhe à memória a queda da ponte. E. Finalmente viu a árvore da sumauma, mistério das almofadas da sua infância. Mas conte-me mais, insisti eu, um pouco inquieta, já que o meu sexto sentido não me largava. Com razão. Entre samambais, trepadeiras e coníferas de rápido crescimento, adubos e compostos, correntes de ar, rega e pulverização, Madame Castafiore confessou que, efectivamente, do que gostava mais no curso de jardinagem era o intervalo. Ao intervalo servem um cafézinho acompanhado por sortido húngaro e broas de espécie.