11.10.03
uma pinguinha de vinagre
À hora de jantar, e antes da Albânia ter empatado, a vizinha do 5º andar mandou cá abaixo um dos miúdos pedir vinagre. A família do 5º andar é numerosa, tão numerosa que ainda não percebi bem quantos lá vivem. São tantos que teve de ser requisitado um segundo contentor de lixo. São tão diferentes dos outros andares que são os únicos que não têm cão nem gato. Vieram para aqui há quase um ano. O prédio deixou de ter sossego e em vez disso passou a ter vozes e correrias nas escadas. Também aproveitam as escadas para cuspir e apagar cigarros. E deixam carrinhos de bébé e bicicletas na entrada do prédio. O prédio não gostou de perder assim espaço e recato e sofre em aparente e ressentido silêncio. Um dia destes, a vizinha do 4º bateu-me à porta e perguntou-me se eu reparei que no dia anterior a EDP tinha cortado a luz do 5º. E a vizinha do 1º tenta sacar-me informações sobre umas discussões a meio da noite de terça para quarta. Eu desvio a conversa, tudo muito nos conformes. Mas qualquer dia tenho que lhes dizer o que é que acho. Eu acho que eles deram vida ao prédio e, descontando as cuspidelas e os cigarros marotos, gosto de ser vizinha deles.