26.10.03

O ANJO DAS PERNAS TORTAS

"A um passo de Didi, Garrincha avança
Colado o couro aos pés. o olhar atento
Dribla um, dribla dois, depois descansa
Como a medir o lance do momento.
Vem-lhe o pressentimento; ele se lança
Mais rápido que o próprio pensamento
Dribla mais um, mais dois, a bola trança
Feliz, entre seus pés — um pé de vento!
Num só transporte a multidão contrita
Em acto e morte se levanta e grita
Seu uníssono canto de esperança.
Garrincha, o anjo, escuta e atende: Goooool!
É pura imagem: um G que chuta um o
Dentro da meta, um l. É pura dança! "

VINICIUS DE MORAES
("Para Viver um Grande Amor", Editora Sabiá, 1962, 6ª edição)

Ontem foi inaugurado um novo Estádio da Luz. Assim que puder, apanho o metro em arroios, mudo na baixa-chiado e vou lá. Gritar esseelbeesseelbeesseelbe. Antes tenho de pôr as quotas em dia e renovar o meu kit futebol - na mochila: cachecol, camisola, rádio palito e respectivos auscultadores, e uma garrafa de água do luso; nos bolsos: o cartão, o bilhete, 10 euros e a rolha de uma garrafa de água do luso (e se o jogo for de importância extraordinária, também a coleira da gata leninha); e no coração sempre a lembrança do meu pai.