Aos 18 anos pensei tirar a carta de condução. Arranjei o atestado médico. Para nada. Não cheguei sequer a inscrever-me em nenhuma escola de condução.
Aos 27 anos pensei tirar a carta de condução. Arranjei o atestado médico. Comprei o livro do código. Para nada. Voltei a não me inscrever em nenhuma escola de condução.
Aos 39 anos pensei tirar a carta de condução. Arranjei o atestado médico. Comprei o livro do código. Inscrevi-me finalmente numa escola de condução, talvez por ficar do outro lado da rua. Para nada. Fui a 10 aulas de código, deprimi e desisti.
Em Junho passado, pouco depois de ter feito 46 anos, pensei tirar a carta de condução. Comprei o livro do código. Voltei a inscrever-me numa escola de condução. Fui a trinta aulas de código. Aprovada com uma resposta errada.
Há 3 dias, levantei-me às 8 e meia da manhã e, equipada coma minha camisola de marinheiro russo, fui beber uma bica ao café onde vi pela última vez o meu guarda-chuva amarelo. Dei-me conta de que me tinha esquecido da carteira e voltei a casa. Aproveitei e meti também na mochila o que encontrei de mais parecido com um amuleto: a coleira da minha gata Lena. Então sim, segui para os Olivais onde me esperava o senhor examinador. Já passaram três dias mas ainda continuo convencida de que se não tivesse voltado atrás e metido na mochila a coleira da Leninha não teria passado no exame de condução. E, no meio disto tudo, esqueci-me de ir pagar a bica ao café onde vi pela última vez o meu guarda-chuva amarelo