21.11.03

na flôr do império

Lisboa, antes de almoço. Mal entro, dirigo-me directamente ao empregado que serve às mesas:"uma bica curta". Acompanho as palavras com um gesto de aproximação polegar-indicador. Se há coisa que pode afectar o meu humor matinal, que já de si não é famoso, é o tamanho da bica.

Instalo-me. Dois jornais sobre a mesa. Fico indecisa entre a bola e o dn. A coisa tem a sua importância: se escolher o dn começo a ler da última para a 1ª página, se for a bola da primeira para a última página. Chega a bica. "Traga-me um cinzeiro, se faz favor". O empregado atira tolhas para cima das mesas vazias. "É só?" ouço o outro empregado, atrás do balcão. A criança à minha frente agarra-se à mesa e espera que a avó acabe de pagar a conta. O empregado continua a atirar toalhas, guardanapos, facas, garfos, pratos, tudo para cima da mesa, tudo menos cinzeiros. Levanto-me e vou buscar um.

A avó pega na criança ao colo: "Upa!". Cai um copo na cozinha. O patrão espreita. Ao balcão a avó pede: "Duas pastilhas pirata". Ouço a máquina registadora fazer ronron. "Ó André pára quieto antes que eu me zangue". Não pára. A avó põe a criança no chão. Birra para que te quero. A avó desembrulha num ápice uma pastilha. É tarde,demasiado tarde. Há lágrimas absolutamente incontornáveis, como na política, e uma birra é assim mesmo, como no futebol. É inútil pedir a segunda bica. A criança não se cala, o cheiro a fritos invade o café, são 11: 44 e não há paz na flôr do império.