Pelas nove da manhã desse dia de Setembro cheguei enfim à estação de Évora. Nos meus membros espessos, no crâneo embrutecido, trago ainda o peso de uma noite de viagem. Um moço de fretes abeirou-se de mim, ergue a pala do boné:
- É preciso alguma coisa, senhor engenheiro?
Dou-lhe as malas, digo-lhe que há ainda um caixote de livros a desembarcar.
- Então é dar-me a senhazinha, senhor engenheiro.
- Mas não me trate por engenheiro. Sou professor do liceu.
"Aparição", Virgílio Ferreira, Liv.Bertrand
Já li a Aparição várias vezes. Ainda não tinha um ano quando fui para Évora. Saí de lá aos 19. Regressei e voltei a sair. Hoje não é fácil para mim voltar. Não sei se por já não existir a casa dos meus pais, se por a cidade ter à superfície outro andamento. Sei que me custa lá voltar. Mas nunca abandonei Évora. E quando quero visitar Évora leio umas páginas da Aparição.