26.11.03

a balada inglesa

Reparei nela ainda o 18 não tinha saído do paragem. Sentei-me à sua frente. Ouvi-lhe a voz: estava a cantar uma balada inglesa. O autocarro arrancou, o sol batia-me na cara e na minha cabeça ressoava a balada inglesa. Ao começarmos a descer a Afonso III começou também o monólogo :"Óptimo. Este vai directamente para a carrinha da metadona". Parecia contente. E voltou à sua balada, agora também minha. Mas de um momento para o outro desatou a praguejar contra os médicos. Elevou o tom e gritou para o motorista: "Este autocarro vai para Chelas?" Eu virei-me para trás: "Vai". "E sabe se passa na carrinha da metadona?". E eu não sabia. Levantou-se repentina e fez meio autocarro a gritar para o motorista:"Ó senhor, este autocarro passa na carrinha da metadona?" Não sei o que o homem lhe respondeu. Sei que desceu na paragem seguinte. Quando a vi pela janela do autocarro, cabelos em desalinho e carteira a saltar do bolso de trás das calças, levava um cigarro na boca, ainda por acender. Parecia zangada. Ou então ia simplesmente a cantar a balada inglesa mas à sua maneira.