15.2.08

o dia das namoradas

Um convite de última hora e o lugar era cá da je. 13-3-15-W-1. Ainda tenho aqui o bilhete do Benfica-FC Nuremberga. Eis-me no Estádio da Luz, por detrás da nossa baliza, muitos metros acima, posso até dizer, sem exagerar, que para planar já faltou mais. E se a mim própria me designo na língua de Racine e de Rosseau, no que aos R concerne, não é para me armar ao pingarelho mas apenas por incontida vontade de dar um passo rumo ao multilinguismo - e, enfim, por uma pontinha de inveja desde que o destino me levou a um blogue em que os posts num dia são em alemão, no dia a seguir em português, e onde não há semana sem inglês, nem lua sem francês.

(Pingarelho, s.m. Pau de armar lousas (armadilhas).||Qualquer coisa pouco segura, prestes a cair e, p.ext., armadilha nestas condições.|| Armar ao pingarelho, usar de artifícios e rodeios para conseguir determinado fim.)

Suspeito eu, suspeita toda a gente, por ser o dia dos namorados havia mais mulheres do que é habitual. Os rapazes não se devem ter lembrado disso, se não teriam jogado melhor. Acho eu. O jogo foi bastante fraco. Eu olhava e pensava quando é que o jogo chega ao fim, quando é que a época chega ao fim, quer dizer, pensava e olhava já para a próxima pré-época: as contratações, os torneios, os estágios, os sorteios, até o novo equipamento, quer dizer, as pequenas vibrações a que nos vamos conformando. Depois um dos nossos rapazes - o nosso rapaz -, fez uma bela jogada, e um outro, recentemente nosso, alto e negro, chutou a bola e foi golo. O guarda-redes deu uma ajuda, é verdade, mas aposto que o rapaz alto e negro tinha a namorada entre a assistência e por isso, talvez mesmo só por isso, é que chutou. E ganhámos. O futebol é assim mesmo. Às vezes basta ter a namorada a assistir ao jogo para se ganhar.

Eu falo assim, leve, levemente, mas devo dizer que isto não é fácil, ver em campo papoilas saltitantes assim, sem jogo, sem geometria, sem aura, pelo menos para quem nasceu no ano da conquista da Taça Latina e aos 4 anos já era bicampeã europeia não é nada fácil. Ontem o Benfica obteve a sua centésima vitória em casa em jogos oficiais da uefa e isso devia encher-me de orgulho imenso em vez de queixas sobre o estado da arte. E quem disse que não faz?