1.12.07

memory

Na padaria há uma nova empregada. É ruiva, jovem; demasia agitada, talvez. Pedi-lhe quatro bolinhas. A padaria é um estabelecimento versátil, vende e fabrica pão, pela ordem inversa, já agora, mas também é café, café-pastelaria, às vezes mercearia. Por lá cirandam velhos, caixeiras das lojas à volta a comer sopas e folhadinhos de salsicha e uma televisão ligada. É sobre esta que quero falar. Estou quase lá.
A padaria está quase vazia. A empregada mais antiga anda por ali a arrumar a loiça, quarenta e poucos, magra, magra, magra. A padaria está quase a fechar. Oiço-lhe a voz, enquanto a nova me avia as bolinhas: gosto muito desta música. A nova acrescenta logo que também, também ela gosta. Quanto a mim não oiço música nenhuma e elas não se atrevem a cantar.
Não ouvia, nem via. O écran era todo chuva. A mais velha empoleirou-se numa banco de madeira, deu uma pancadinha no aparelho mas a chuva não passou. Encolheu os ombros e não desanimou, aumentou o volume.
Ficámos as três a ouvir " Come As You Are". Foi um belo momento de nostalgia, por 68 ou 69 cêntimos que foi quanto eu paguei, informo pelo prazer da minúcia. Naquele momento a padaria estava quase a fechar mas continua a trabalhar na minha cabeça, agora que passou a ser a padaria dos Nirvana.