5.3.05

R.I.P.

Km 24, A6, ontem ao fim da tarde, em direcção ao Sul. O Sol de tão baixo cega os espelhos laterais, por isso é o retrovisor interior que me põe a par do mundo atrás de mim, enquanto controlo o binário máximo, mantendo-me nas 3750 rpm, quer dizer, a 130km/h.
Esse mundo acaba por reduzir-se a uma estrela, a do símbolo da mercedes, filtrado por um laranja bright lá atrás. É uma carrinha, alta e escura. Vejo-a piscar e ultrapassar-me: é uma carrinha de cristal, confirmo que escura, e então vejo o tecido de veludo bordado a dourado que cobre a urna. Mais uns segundos e fico só.
Quando eu morrer levem-me de volta para o Alentejo. Quero ir assim, na esgalha. Quero ir assim, ao pôr do sol. Partir de dia e chegar de noite. Dormir pela última vez onde nasci.