As minhas gatas gostam do campo, isto é, imagino eu que sim, que as minhas gatas gostam do campo. Imaginar, imaginar, não será bem. Será mais um supor, um supor do género suponhamos. Como é que me hei-de explicar? Limitar-me-ei então a dizer o que vejo. Vejo uma gata em cima duma oliveira, vejo outra gata espojada no chão cor de barro. Estão ambas ao sol. E eu penso que isso é a felicidade.
É uma pena não poder falar com elas. Eu ia para cima da oliveira e falávamos sobre a felicidade, porventura o mais famosos dos não tema. As minhas gatas não falam porque não têm dupla articulação, explicou-me um dia Madame Castafiore. Mas atenção, não apenas as minhas gatas, fez questão de ressalvar, logo na altura, Madame Castafiore.
Quanto a mim, poderia de facto subir para uma oliveira e se não caísse, é só um supor, claro, desejaria que o sol viesse matar as perguntas. "O Sol mata as perguntas" aprendi eu em Madrid, Espanha, longe das oliveiras, perto do futuro. Já lá vão doze anos. Doze ou mais.