Era um bom quadrista, sabia muitas. Deixa ver se me lembro doutra. Eu sei, eu sei mais.
Fecha-te janela de vidro
Abre-te porta
-Não, não é assim.
Fecha-te
Fecha-te porta de vidro
-Ai! Não é aqui que começa, bem me estava a parecer, é mas é assim:
O meu coração é de ouro
E dentro tem gavetinhas
Que se fecha com saudades
e abre com palavrinhas.
Fecha-te porta de vidro,
Abre-te janela d`ouro.
Resolve o teu coração
Vamos a tratar namoro.
Fecha-te janela d`ouro,
Abre-te porta de vidro.
Resolve o teu coração
Que o meu já está resolvido.
e ficaram com o namoro enfeixado, que ele convenceu-a com três palavras.
in A Floresta em Bremerhaven, de Olga Gonçalves.
Um livro notável. Li-o há uns anos e provocou-me na altura o entusiasmo dos mundos que se abrem. O discurso directo explorado sem tréguas, a ficção escondida na anatomia da linguagem e dos gestos do quotidiano, a identidade-contaminação dos portugueses emigrados, a atracção da partida, o confronto e a aquisição do estrangeiro, a imagem do nosso sítio revista à chegada.