21.1.04

Detective Story

À minha frente no metro, linha azul, um homem a ler um livro de poemas. Foi o suficiente para mandar à fava a discrição e inclinar-me para alcançar o título. Não consegui. A capa escura dificultou-me a intenção. Houve, no entanto, um momento, entre a Rotunda e a estação do Parque, em que estive quase, quase, mas o homem resolveu ajeitar os óculos e, para o fazer, mudou o livro para a outra mão. Porém, o autor não me escapou: W.H.Auden. Sorri. Conheci Auden através do Fernando Lopes, em finais do século XX. Imaginei então que o homem estaria a meio de Detective Story:

A sequência é banal. Tudo corre segundo o plano:
A disputa entre o senso comum local
E a intuição, esse amador irritante
Que tem sempre a sorte de chegar ao local antes de nós
Tudo corre segundo o plano, a mentira e a confissão
Até à excitante perseguição final, o assassínio.


Seja como for, e disso tenho a certeza, até à Praça de Espanha o homem não conseguiu ler mais nada, por causa da pasta volumosa que levava e que obstruia o espaço que separa os bancos. Teve que se levantar para deixar sair uma passageira apressada que de repente se deu conta que a sua estação de destino tinha ficado para trás. Eu.