11.8.11

W.J.Cliffe, morto aos vinte anos

No último sábado de Julho, a caminho de Montparnasse, entrei numa livraria. Precisava, por causa dum trabalho, do "Moderato Cantabile". Comprei-o. Olhei à despedida para a estante da Gallimard e, no meio de outros livros da Duras, havia um que parecia olhar para mim. Tenho-o aqui ao meu lado, enquanto escrevo este post. Chama-se "Écrire"; tem 5 textos e uma dedicatória: "Je dédie ce livre à la memoire de W.J.Cliffe, mort à vingt ans, à Vauville, en mai 1944, à une heure restée indéterminée."

"La Mort du Jeune Aviateur Anglais" é um relato emocionante. Emocionou-me. E ler Duras na sua língua é, por si só, emocionante. Já tinha tido essa experiência com García Márquez quando estive vários meses seguidos em Madrid sem falar português. Só aos sábados, numa cabine telefonica, falava com o meu pai (outras vezes tentava cantar enquanto descia a Calle Princesa, onde havia o Corte Inglés mais perto de mim, mas, não sabendo de cor letra de canção nenhuma, desistia). O primeiro livro que li em castelhano duma ponta à outra foi "Crónica De Uma Morte Anunciada". E foi uma música que nunca mais me saíu da cabeça. Mas García Márquez é o autor "Cem Anos de Solidão". Explico-me:  "Cem Anos de Solidão" bateu-me de tal maneira que, com receio de perdê-lo, nunca mais o li. Nem no original. Não é fácil uma pessoa desfazer-se dos quinze anos.

Com Duras o combate sempre foi outro: uma distância, uma reserva, uma tensão nos ombros. E senti-me, ao ler "La Mort du Jeune Aviateur Anglais", em movimento, a dizer adeus a isso tudo, um tudo que era nada e que durou anos. Foi essa a minha primeira emoção ao ler esse livro, dedicado a W.J.Cliffe, morto aos vinte.