9.8.11

o regresso de Castafiori

Castafiori viajou. Castafiori gosta de viajar. Fomos jantar um dia destes e, depois, enquanto descíamos em direcção ao rio, ouvi-a dizer, Está uma noite estupenda. Há que tempos que eu não ouvia dizer, Está uma noite estupenda. Vivo num meio onde os substantivos ocupam com facilidade o lugar dos adjectivos. Assim não é com Castafiori. Se uma noite está estupenda, está estupenda. Só depois me falou da viagem, dos campos de túlipas, dos pintores que eternizaram a luz do continente, e pude verificar quanto permanece em nós o fascínio por esse "lá fora" que ainda não afastámos do pensamento, nós, europeus do norte de áfrica. Castafiori gosta de viajar. Lamenta nunca ter ido a Itália, nunca ter ido a Chipre, nunca ter ido para lá de Berlim. Depois disso, só a China lhe interessa. Mas a China agrícola, precisou, Sabe, lá para o pé dos búfalos e do arroz integral. Ficámos em silêncio. Castafiori quiça meditando no oriental desejo, eu toda especulação: a China agrícola. Estávamos a chegar ao Arco da Rua Augusta, quando ouvi a voz de Castafiori mergulhar na escuridão da Praça do Comércio, Tinha era que levar um bom mosquiteiro.