PORQUINHO-DA-ÍNDIA
Quando eu tinha seis anos
Ganhei um porquinho-da-índia.
Que dor de coração me dava
Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão!
Levava ele prá sala
Pra os lugares mais bonitos mais limpinhos
Ele não gostava:
Queria era estar debaixo do fogão.
Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas...
- O meu porquinho-da-índia foi minha primeira namorada.
Ganhei um porquinho-da-índia.
Que dor de coração me dava
Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão!
Levava ele prá sala
Pra os lugares mais bonitos mais limpinhos
Ele não gostava:
Queria era estar debaixo do fogão.
Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas...
- O meu porquinho-da-índia foi minha primeira namorada.
TERESA
A primeira vez que vi Teresa
Achei que ela tinha pernas estúpidas
Achei também que a cara parecia uma perna
Quando vi Teresa de novo
Achei que os olhos eram muito mais velhos que o resto do corpo
(Os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando que o resto do corpo
nascesse)
Da terceira vez não vi mais nada
Os céus se misturaram com a terra
E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águas.
MADRIGAL TÃO ENGRAÇADINHO
Teresa, você é a coisa mais bonita que eu vi até hoje
na minha vida,
inclusive o porquinho-da-índia que
me deram quando eu tinha seis
anos.
Manuel Bandeira, "LIBERTINAGEM", publicado em 1930; trinta e oito poemas escritos entre 1924 e 1930, entre eles, "Poética", "Evocação do Recife", "Nocturno da Rua da Lapa", "Poema de Finados"; andei a lê-los, estes e outros, em dois livros publicados em Portugal: "OBRAS POÉTICAS", Minerva, 1956, e "POESIAS", Portugália, este último com selecção e prefácio de Adolfo Casais Monteiro - pelo que percebi, um importante prefácio sobre o poeta e o modernismo brasileiro. "Não quero saber mais do lirismo que não é libertação".