PORQUÊ ESTA OBSCURIDADE?
Porquê esta obscuridade, sempre esta obscuridade total nos meus textos? A explicação é simples:
Porquê esta obscuridade, sempre esta obscuridade total nos meus textos? A explicação é simples:
Nos meus textos tudo é artificial, quer dizer que todas as personagens, os factos, os incidentes se representam num palco, e o palco está totalmente mergulhado nas trevas. As personagens que aparecem no espaço quadrado da cena reconhecem-se melhor nos seus contornos do que sob uma iluminação normal, como é o caso na prosa ordinária. Na escuridão, tudo se torna claro. Não só as aparições, o que se obtém da imagem, não, também a linguagem. Há que imaginar páginas totalmente negras: a palavra fica mais clara. Daí a sua nitidez ou a sua nitidez redobrada. No começo, servi-me deste meio artificial. Quando se abre um dos meus livros, acontece o seguinte: é preciso imaginar que se está no teatro, ao virar da primeira página sobe um pano, aparece o título, escuridão completa, e desse fundo, dessa escuridão, surgem as palavras que se transformam em processos de natureza tanto interior como exterior, e que, em virtude desse mesmo carácter artificial, artificiais se tornam com redobrada nitidez.
Três Dias (auto-entrevista), 1971, monólogo de Thomas Bernhard num banco de jardim, arredores de Hamburgo, 1970, filmado por Ferry Rodax; em 1971 publicação no Der Italianer