29.8.11

agosto sob influência: marguerite duras

A escrita torna-nos selvagens. Regressamos a uma selvajaria de antes da vida. E reconhecêmo-la sempre, é a das florestas, tão velha como o tempo. A do medo de tudo, distinta e inseparável da própria vida. Ficamos obstinados. Não podemos escrever sem a força do corpo. É preciso sermos mais fortes que nós para abordar a escrita, é preciso ser-se mais forte do que aquilo que se escreve. É uma coisa estranha, sim. Não é apenas a escrita, o escrito, são os gritos dos animais da noite, os de todos, os vossos e os meus, os dos cães. É a vulgaridade massiva, desesperante, da sociedade. A dor, é Cristo também e Moisés e os faraós e todos os judeus e todas as crianças judias e é também o mais violento da felicidade. Sempre, acredito nisso.
Marguerite Duras, "Écrire"