agosto sob influência: marguerite duras
A escrita
torna-nos selvagens. Regressamos a uma selvajaria de antes da vida. E
reconhecêmo-la sempre, é a das florestas, tão velha como o tempo.
A do medo de tudo, distinta e inseparável da própria vida. Ficamos
obstinados. Não podemos escrever sem a força do corpo. É preciso
sermos mais fortes que nós para abordar a escrita, é preciso ser-se
mais forte do que aquilo que se escreve. É uma coisa estranha, sim.
Não é apenas a escrita, o escrito, são os gritos dos animais da
noite, os de todos, os vossos e os meus, os dos cães. É a
vulgaridade massiva, desesperante, da sociedade. A dor, é Cristo
também e Moisés e os faraós e todos os judeus e todas as crianças
judias e é também o mais violento da felicidade. Sempre, acredito
nisso.
Marguerite Duras, "Écrire"