11.12.08
Amália
Quando o pensamento me ocorreu achei-o absurdo: Amália foi quem mais me fez chorar em toda a minha vida. Ora por causa de um fado, e às vezes um fado chega aos meus ouvidos como se nunca o tivesse ouvido, ora por causa de uma imagem sempre outra, os olhos fechados, o grande rio ao fundo. Ora porque estou contente, porque sou triste, por causa duma certa maneira, por causa duma nota suspensa, porque passo na Mouraria, porque passo na Madragoa, por um ciúme, por uma resignação, ou se uma gaivota vier. Sei lá as vezes que eu já chorei à conta de Amália. Quando sexta-feira saí do Londres depois de ver um filme sem cinema, arrumei a coisa sob um "que se lixe" de fim de tarde. Atravessei a Alameda por entre os cães, os donos e as crianças nos baloiços, e fui para casa ouvir o "Com que voz" duma ponta à outra. Amália dá-me um intervalo, uma consciência, é um tumulto mas também uma serenidade, como um sol que ilumina o negro.