2.5.07
idem idem aspas não
O homem não parou de escrever, pelo menos enquanto lá estive. E eu, enquanto lá estive, também não. O homem não disse uma palavra. Eu também não. O homem tinha escolhido um lugar com vista para o jardim e eu, imagine-se, também. Mas a situação não se fazia só de semelhanças. Havia pelo menos uma diferença fundamental: ele escrevia num portátil cinzento, eu numa agenda azul da papelaria fernandes. Mais: ele tinha os óculos na ponta do nariz, eu tinha os meus em cima dum dossier aberto sobre a mesa. Eu não me ri uma única vez e ele ria de vez em quando. Reconheço agora que isso chegou a perturbava-me. Ele parava de ler o que tinha acabado de escrever e ria-se. Eu, já disse, não me ria nem estou a ver-me a rir numa circunstância dessas. Não acho próprio. É feio uma pessoa rir-se das pessoas enquanto está a escrever sobre elas.