Às vezes na biblioteca pego em livros de que não percebo nada, népia, zero. Isso não me pára. Zero. Não devemos recear os livros. Às vezes gosto apenas de lhes tocar, de passar os dedos pela capa. Às vezes é só por causa duma palavra e, às vezes, nem é preciso ser uma palavra, basta-me a forma da letra. O de hoje tinha no título a palavra "mimésis". Chamava-se "Mimésis e Negação". Via-se logo que não era coisa para mim. Peguei-lhe.
À terceira ou quarta folha encontrei uma dedicatória: "Em memória de José Marinho, Mestre de Verdade, que conversava à noite com os anjos e de manhã não acreditava neles". Este livro estava-me destinado, embora não o consiga ler. Sei lá eu o que é a Negação. Anjos e caixas de fósforos, estrelas e neblinas.