20.9.08

férias grandes (3) sandes de atum

'inventaire à la Prévert' para cinco dias de praia:

Um protector solar, duas garrafas, três euros para o bilhete, quatro folhas
em branco; e uma sandes de atum. Seis folhas impressas em papel
reciclado e um pêssego; um guardanapo caído atrás do frigorífico; uma canção do Caetano, sonho meu, atrás da
verde-e-rosa, só não vai quem já morreu;
um panamá, o mesmo protector solar; e outra sandes de atum.

Um mergulho, três homens e uma bola, os meus óculos de sol,
um veleiro em sotavento, quem vai ao mar perde o lugar; na esplanada dos espanta-espíritos
servem batidos e melão com presunto, quero água tónica e trinta e duas rodelas de limão.
Terceira sandes de atum.
Maré viva, âncoras comuns, os ricos saltam nas dunas, eu leio uma entrevista com Quique Flores; esta noite no bowlling já sei que não faço strike algum. How many
strikes you can get. Acabei de despachar a minha sandes de atum.
Tell me now.

Já joguei snooker, já joguei matrecos, vi um papagaio, fui à praia verde. Fiz a 125 para cá e para lá. Amanhã parto. Encontrei um telegrama antigo que dizia "conta muitos", etc, etc. Hoje é o meu último dia, na Ria Formosa, Santa Luzia.
Aqui.
Sento-me no café do Beto. Trago oregãos da mercearia. O circo levantou ontem. E
esta noite
ouvi o mar.
Um mapa, uma estrada, dois carros que se cruzam
na estrada, um puto de havaianas, cinco mulheres na areia, um relógio nike
com cronómetro, uma prancha, duas pranchas, chegou a vez da sereia. Mergulho.
Um pavimento flutuante.
Os jornais só falam em criminalidade violenta, quarenta assaltos e dois
sobressaltos,
o primeiro quando cheguei, o outro quando parti. Adeus
terra estreita, adeus praia do barril, já na travessia comi a quinta sandes de atum, uma por cada tarde a existir só para mim. Esta noite não jogo setas.