Ao ver a rapariga aproximar-se no seu vestido verde - verde como algumas maçãs que o senhor Necas expõe no exterior da mercearia -, o trolha entreabriu a boca num longo sorriso e o sorriso revelou a mosca que deixara crescer sob o lábio inferior. Cessou o ruído da pá contra a calçada e a areia grossa caiu-lhe para cima das botas. Depois disse quando a rapariga passou do outro lado da rua:
- Tão verde e já se comia tão bem.
A rapariga fez de conta que não era nada com ela. O vestido fora estreado na Páscoa e estava destinado a ser a sensação daquela Primavera. Continuou num passo que vacilava uma e outra vez mas só na sua cabeça. Não podia corar, não podia corar, não podia corar. Quando a rapariga desapareceu na esquina da mercearia do Necas ouviu-se o raspar da pá na calçada e o rapaz juntou uma porção de cimento e duas de cal para oito de areia.