Avistei-os mal saí do metro. Para dizer a verdade, primeiro avistei a caixa. Depois sim, vi-os. Um dum lado e outro doutro transportavam a televisão numa caixa em papel canelado que tinha impressa a azul a marca japonesa e um desenho omnipresente.
Os dois homem caminhavam em passo largo, falavam, pareciam contentes. O da esquerda era mais baixo, tinha o cabelo claro. Ambos usavam calças de gangas e camisas de verão. Não tinham parado de falar desde que os vi. E tudo levava a crer que já vinham a falar antes.
Imaginei-os emigrantes. Sim emigrantes, mas emigrantes donde? De leste. De leste ou do Brasil: ao aproximar-me vi que o loiro do cabelo não eram uniforme, apresentava uma espécie de nuances feitas com escassos meios e menor técnica, pensei.
Como eu não transportava nenhuma televisão, naturalmente aproximei-me um pouco mais. Mas não conseguia perceber o que diziam. Eram 4 e meia e a rua é das mais movimentadas da cidade.
Imaginei-os em frente à televisão, a amarrotar, uma após outra, as latas de cerveja compradas no lidl. Em chinelos e calções amarelos se fossem brasileiros, ainda com os blusões vestidos se fossem de leste. Nisto pararam, pousaram na calçada a caixa da televisão de 22 polegadas e trocaram de posição: o que estava na esquerda foi para a direita e o que estava na direita não teve outro remédio senão ir para a esquerda. Este interlúdio foi suficiente para que eu os ultrapassar. Ouvi-os falar: leste.