14.4.11

Repeat

Sentei-me na esplanada como a  minha Vera se estende na varanda e inclinei a cabeça para trás. Apoiei-me na vidraça. Eram quase, quase nove e o sol, o sol de inverno, passava pela minha cara como o vento por uma janela aberta. Deixei-me estar. O homem na mesa ao lado atirou os óculos contra o tampo. Eu ouvi o tac sobre o metal. Tac. A rapariga que falava sobre o resplendor dos faróis de cabotagem levantou-se para pagar a conta. Usava sapatos de vela. Na rua perpendicular, um taxi travou sem avisar. Parecia que o mundo tinha acordado todo naquele instante. Eu não estava preparada para um mundo tão concreto, demasiado concreto, pensei. Pus o ipod a funcionar em modo aleatório e uma canção ligeira invadiu a minha cabeça. Deixei-me ir, "Essa história de gostar de alguém já é mania que as pessoas tem". Sorri da rima fantasiosa e encontrei o mundo na cadência que morreu quando Nara Leão morreu. "Muita alegria, faz também sofrer". Carreguei no símbolo repeat. Ouvi Tahí uma vez mais. Há dois dias que só oiço Tahí.