Oiço ópera algures. O meu prédio não é muito dado à ópera. Vejamos. O andar de baixo, não desfazendo na ópera, põe Leonard Cohen acima de tudo. O primeiro, está silencioso desde que o cão morreu. No rés-do-chão varia-se bastante; mas não há perigo de confundir a Vitória de Los Angeles com nem eu sei quem, que também de óperas pouco cheiro. O andar de cima, isso sim, eu sei, prefere definitivamente frango no churrasco. E do quinto, não tenho notícias frescas. Mas donde é que virá o raio da música, que acaba de passar-me outra vez pelos ouvidos? Espera lá, espera lá, mas aquilo é a Carmina Burana, pois é, a Carmina Burana, ó se é, e eu quase a lançar-me numa teoria geral sobre o espaço e a multiculturalidade e vai-se a ver e o que estão a ouvir é a Carmina Burana. Por acaso até vem a calhar, até me resolve o enigma, sendo a Carmina Burana, pode vir de qualquer dos andares. Fortune plango vulnera. Olha e agora estou a ouvir o concerto de Aranjuez. Mas esta gente está a passar-se ou quê? Francamente, daqui a nada chega a vez do Rachmaninoff. E onde é que anda o kuduro e o forró?
(reflexão de ontem à noite, eram prá aí dez e meia)