30.11.10
deambulação
Quem sabe quando. Quem sabe onde. Espero-te. A vantagem de não sair do mesmo sítio, esta espécie de passerelle, ter diante dos olhos um mundo que se apresenta já feito, a vantagem de não estar dentro é essa distância, essa mentira piedosa de pensarmos que dominamos e sermos dominados, de pensarmos que esperamos e exasperarmos. A chuva não melhora a visão. Decido aniquilar este momento e rodar sobre mim própria. Daqui vejo um prédio azul, e no rés-do-chão uma videira e isso, sim, melhora a minha visão, e vejo quatro calças de ganga a secar no estendal do primeiro andar e isso, sim, melhora a visão, e ouço um grito na rua e isso também melhora a visão. Deixar de pensar e deixar de esperar, e em seu lugar olhar pelas traseiras. Mas sempre no mesmo maldito sítio. A chuva volta. Não ouço nada. Só ouço a chuva. Não vejo nada, só vejo a chuva. Vou recomeçar. Um dia acerta-se.