A Alice foi assaltada ao virar da rua, noutra rua, num bairro periférico. O dia tinha começado cinzento mas não creio que isso tenha estado na origem do acto.
O ladrão tinha visto a patroa das sextas dar-lhe o dinheiro. Isso é que lhe deve ter dado ideias. Mas não se pense que se ficou a rir, quero eu dizer, o ladrão. Desde logo porque a Alice resistiu ao esticão e foi por ali fora esticada mais a mala e o ladrão, todos esticados rua fora, até que o ladrão conseguiu desesticar e desandou. A Alice ficou agarrada ao braço, impotente, a meio da rua, sem fôlego, a vê-lo desaparecer com a mala, o telemóvel e os euros acabados de ganhar. Mas o vizinho da patroa, que estava à porta com a mulher, tinha visto o início da jogada. Não sei se o ladrão terá contado com isso. Acho que não.
O vizinho entrou no jeep e foi atrás do ladrão. Ele e a mulher. Apanharam o ladrão, recuperaram a mala. E ainda lhe chegaram a roupa ao pêlo, disse-me a Alice. Mas o pior, menina, são as costas, não queira saber a dor de costas com que ainda estou, da força, ele a puxar dum lado e eu a segurar do outro. Mas também levou a seguir. Bem feita. Deixe lá, Alice, são uns desgraçados. Pois são, menina. Na polícia mostraram-me umas fotografias mas ia lá eu saber qual deles eram. Eles são todos iguais. Pois são.