Entrei no café e estavam lá cinco polícias. Todos a beber imperiais. Eu para chatear pedi um café. Um dos polícias ripostou. Pediu um maço de tabaco. 'Dos azuis'. O patrão sorriu. É portista. Eu para chatear guardei o pacotinho de açúcar. Não ponho açucar no café, prefiro ler o que os pacotinhos trazem escrito. Li. 'Um dia levo para casa um cão abandonado. Hoje é o dia. Nicola. Encontros perfeitos'. (Aquilo era para mim? Devia ser). Do outro lado, estava escrito: Desejamos-lhe um óptimo café Nicola'. (Saberão os cafés Nicola que eu tenho duas gatas? E quem são eles para me atribuirem pensamentos? Um dia levo para casa um cão abandonado?!) Polícias, cães abandonados, cafés amargos, não é preciso ir mais longe para reunir num instante quase todos os ingredientes duma narrativa moderna. Quase.
Cá fora cruzei-me na passadeira com uns saltos verdes de 12 cm e mala a condizer. Antes de virar a esquina, olhei para trás e vi-a entrar no café e sentar-se numa das mesas com toalhas de plástico aos quadrados. Aposto que a seguir pediu o 24 horas. Era a personagem que faltava à minha narrativa.