14.11.11

factos

o vento desconhece os factos, qualquer deles
descompassado, sopra, árido,
ávido
em linha recta
escapo
até à próxima estação

os factos são recentes, vão e vêm
como uma batida no coração se instalam
ao fim de alguns quilómetros
o vento torna-se quase íntimo
páro
noventa e cinco ou noventa e oito octanas
três números fazem diferença
descanso, por um instante
quem me dera perto
duma macieira
cercada de formigas
em vez de vultos no alcatrão, em sobressalto
percebo que não são pétalas
o que vejo
nem óleo perdido
nem nada que se pareça
com as minhas pálpebras a descerem sobre mim, em marcha lenta
são bocados de papel rasgados por mãos recentes
que se devoraram
como factos inconclusivos
a caixa repete bomba seis, bomba seis
num último esforço
empurro com as duas mãos uma montanha
ao mesmo tempo penso, eis a realidade desfeita
de um momento para o outro

na autoestrada só há futuro