15.3.11

concorrência desleal

Levantei-me cedo. Pus um disco a tocar no telemóvel, fiz-me ao caminho e caminhei. Parei nos sinais, olhei para a direita e para a esquerda, agradeci aos condutores que paravam nas passadeiras. Era domingo. Entrei no Museu do Azulejo. Já não escrevia há alguns dias. Precisava de escrever. Antes de escolher uma mesa, tirei umas fotos rápidas a uns peixinhos vermelhos que chamavam por mim. Senti-me prestável. Pedi um café e abri o "office", o meu caderninho chinês onde se pode ler, inscrito na capa, "enjoy your writing with Yixin products". E aqui é que se dá uma falha na minha memória, que só constatei horas depois quando quis reconstituir os acontecimentos, não sei, distraí-me, desconcentrei-me.
Talvez porque na mesa estava uma pequena jarra quadrada e eu espanto-me sempre diante de jarras quadradas, talvez porque o piano que me entrava nos ouvidos rimasse com as folhas de acanto que vira no jardim, o certo é que me distraí, desconcentrei-me, sei lá, e agora há uma falha na minha memória, provavelmente provocado por um trauma. O caso não é para menos: é que, quando dei por mim, na mesa ao lado estavam seis italianos, três homens, e três mulheres, cujo volume de voz - e eu sei lá se é volume, se é projecção, se é débito de conversação -, arrumou tudo em três tempos: os peixinhos vermelhos, o piano, a jarra, as folhas de acanto e o meu caderninho chinês. Enjoy.