9.12.10

o 158

Aí há uns tempos largos, ligo a televisão num sábado à noite e ouço isto já a caminho da cozinha: "- Que belo toiro de Veiga Teixeira". Volto para trás. Vejo primeiro um número, depois umas patas, depois uma cabeça imponente. Olho e concordo comigo mesma, Que belo toiro que é este 158. Mas eu sou pessoa para ver imperfeições em tudo e vi imediatamente que os cornos do touro estavam tortos, estavam um bocado afastados, pelo menos aos olhos duma leiga. Pensei, ó 158, esse par de cornos ainda te vai dar problemas. Mas imediatamente discordei de mim mesma:  se, seja como for,  o 158 vai morrer dali a bocado, que diferença pode fazer os cornos estarem um bocado tortos? Nisto o cavaleiro crava uma farpa no animal, não sei se se diz assim, farpas, touro, farpas, Ramalho, farpas, farparemos, farparás. Estava eu nestas divagações e vejo o animal andar por ali um bocado à toa. É uma coisa que me incomoda nas touradas. Depois percebi. O cavaleiro tinha desaparecido. Aumentei o som da televisão. O cavaleiro tinha ido mudar de cavalo. Mudar de cavalo?  Olhei para o 158 enquanto ouvia o comentador, O toiro aguenta perfeitamente mais um ou dois ferros. E eu pensei, e então o cavalo, não aguenta? Olhei para o 158 pela última vez, interrogando-me estupidamente, Para que serve a beleza, 158? Mudei de canal.