20.12.10

Merry Christmas, Madame Castafiori!

Cá e lá c'est noel. Comprei um paté de nozes e vinagre balsâmico ao preço do vinho do porto. No dia seguinte, senti-me culpada.  Tudo me pareceu triste, ao acordar. A roupa estupidamente estendida, as ondas que, nestes dias, se formam no alcatrão e que as rodas dos carros lançam contra as pessoas nos passeios, as laranjas húmidas expostas à porta do chinês, os pombos recolhidos entre os andares, tudo imagens a invandir o meu triste cérebro, nesta cidade temporariamente triste, onde as pessoas abrem obedientes os guarda-chuvas, como se dissessem, Se a nossa única certeza - o sol - nos abandona, a esperança ou o desespero deixam de fazer parte das nossas vidas. Foi com este estado de espírito que telefonei a Castafiori. Castafiori foi condescendente. Disse para eu não pensar na chuva nem nas paragens dos autocarros. Disse-me também para eu não pensar no preço dos chocolatinhos com trufas, que me esqueci de mencionar acima. Para Castafiori, só uma grande falta de prática ou uma completa ausência de sentido social poderia justificar a culpa que me assaltou ao amanhecer. "Pensar nos preços não lhe faz nada bem", concluiu, e acrescentou após breve pausa,"mas não serei eu quem a vai censurar, é monótono ser sempre pobre". Merry Christmas, Castafiori.