1.8.09

adeus, cliozinho

Já passava das seis. Eu ia feliz. Janelas abertas, John Coltrane, calor, mapa dobrado, John Coltrane. Mas havia uma coisa a perturbar-me na estrada entre o Torrão e Vila Nova da Baronia, uma coisa que esvoaçava no carro, e que eu tentei imobilizar. Despistei-me. Um pontão de águas residuais no caminho, o alcatrão de novo. Tudo durou menos do que as palavras que usei na descrição. Não me aconteceu nada a mim. Ao cliozinho sim, é agora um VFV, um veículo em fim de vida, um veículo para a sucata. O meu clio era velho, já cheirava a gasolina, gastava bastante - era um 1400, 80 cavalos, 1992 - a tinta estava a estalar no capôt, mas tinha um arranque sensacional, um ar de classe em extinção e transmitia-me a ilusão de que poderia ir com ele daqui a Vladivostok. Era só querer. Não iremos a Vladivostok. Tudo e todos os que eu amo acabam no Alentejo. Eu sei que é estúpido dizer isto assim, mas eu amava o meu clio.