4.3.09

Tokio-GA

Estou no café. Faço um movimento trivial: olho à minha volta. Estou cercada por caixas-de-óculos. Eu própria sou uma caixa de óculos. Não sei porque me lembrei desta afronta infantil. Hoje estou muito infantil. Invejo os morangos que um dos caixas-de-óculos está a comer. Ele começou por lamber a colher, inclusivamente. Inclino-me para ler o título do jornal do homem da frente e soletro ainda inclinada: 'fis-co que-ri-a, não, cri-a, cri-a ca-das-tro-'. Agora já não me apetece ler. Agora quero-me ir embora, agora já não quero ir. Agora quero água, agora só falta atirar-me para o chão como o miúdo do metro no filme de Wim Wenders.