25.11.08

a capa

O cão tinha uma capa e uma trela na boca. A dona tinha uma capa e um cigarro na boca. Ambas as capas eram negras como os tubos do esgoto. Quanto à trela e ao cigarro não se verificava nem a similitude nem a desajeitada metáfora: a trela era encarnada e o cigarro era branco, incluindo o filtro.

Atravessaram o relvado da Alameda, que é verde. O céu não estava azul como nas manhãs inspiradoras, estava cinzento. Ameaçava chuva, portanto. Desejei praticamente e com todas as minhas forças que a carga de água chegasse e que nem a capa de um nem a do outro servissem para coisa alguma.

Caso não tenha ficado explícito: não suporto cães com capas, ou capinhas como os donos preferem nomeá-las, no intento desesperado de adequar a semântica ao tamanho dos seus melhores amigos. Só isso justifica que, apesar de desprovida de guarda-chuva ou qualquer sorte de capa ou capinha, tenha ficado subitamente feliz quando começou a chover.