16.4.08

incipit

Madame Castafiori tem um segredo. Eu sei o que estou a dizer. Não precisarei que me lembrem que ela, mulher de apetites e pulseiras flamejantes, tem vários, e com que insuspeitas proveniências me tem surpreendido, aliás! Mas o último é o que conta, e por essa via transfigura-se em 'o' segredo. Dito isto, posso continuar por onde começei: Madame Castafiori tem um segredo.

O segredo chegou-me por inconfidência da própria: Castafiori vai de propósito a uma determinada mercearia não por causa da qualidade ou variedade ou preço ou ou mas por causa do gerente. Ah! Que bom ir a uma mercearia por causa do gerente e não apesar de, foi a minha reacção. Deve ser melhor que não cumprir um dever.

E o que distingue este gerente dos outros gerentes que existiram na vida de Castafiori ? O charme dum passado insinuado? O porte garboso de lugar tenente perdido para sempre? A voz colocada, grave, timbrada, a voz ? Mesmo uma propostazinha mais indecente, vá lá, um atrevimentozinho na hora do troco? Não. A resposta é: o verbo.

Nada mais, nada menos: o verbo, incipit - o gerente faz quadras. Ah! Castafiori, Castafiori, que saudades eu tenho dos tempos em que a sua cabeça se alimentava de fantasias americanas! Agora quadras, Castafiori! Por este andar acaba a ouvir o Tony Carreira.