15.6.11

Passeio em Ponta Delgada (1)

Saio da Residencial Alcides. Atravesso a rua que tem o nome de um dos meus heróis, Machado Santos, e prossigo rente às paredes brancas. Vou pelo passeio do lado esquerdo.

Do lado direito as rodas dos carros roçam na berma e bastam os espelhos e os puxadores das portas para ocupar toda a largura do passeio, de tão estreito que é. São difíceis de utilizar os passeios da Pedro Homem. É assim que se chama a rua que eu melhor conheço em Ponta Delgada.

Vou então encostada ao passeio do lado esquerdo, também ele estreito, mas livre de estacionamento.  Quando um carro passa, viro-me ligeiramente para a parede, não vá o condutor confiar num golpe de vista menos feliz e arrastar-me com ele, como certos guarda-redes em tardes para esquecer.

Olho à direita e à esquerda. Parece-me que reparo sempre nas mesmas coisas: o post-it amarelo com a contagem da água, colado numa janela, o jardim botânico selvagem que cresceu nas ruínas de uma casa e que se pode observar por uma porta em vidro que, com as janelas, se mantém estranhamente intacta.

Ao chegar ao Rotas, o restaurante da Catarina, onde jantarei esta noite, consulto o menu afixado nas vidraças e atravesso a rua e, ainda a hesitando entre o risotto de cogumelos e o risotto de espargos, viro à direita numa travessa que me leva à Rua d' Agoa. Assim, com esta grafia, agoa. Não sei se por causa do nome, se por causa do trânsito se fazer em sentido contrário, sinto uma espécie de alívio. Posso caminhar com normalidade, um pé depois do outro. Mas esta tarde, em vez de, chegada ao cimo da rua, virar para o lado direito, como habitualmente, sigo em frente. Vou entrar numa zona desconhecida.

Observo uma casa antiga a desfazer-se e onde um placard de uma empresa de construção parece estar a mais, como uma piada de mau gosto. Ou talvez seja mais simples, um contrato-promessa por resolver, uma licença que tarda. Deve ter sido uma casa cheia de vida e poder. Gostava de conhecer o quintal, penso enquanto acabo de subir a rua. Terá provavelmente um limoeiro. Um limoeiro coberto de musgo, um limoeiro com limões, uns nos ramos por podar, outros no canteiro que o rodeia. Se eu tivesse um quintal havia de ter um limoeiro. Atravesso a estrada. E entro no Jardim. São dois euros. Felizmente tenho trocado. (cont.)