22.9.10
no hall
O hall do teatro é um sítio agradável. Está fresco, mas não está frio, a luz é natural e artificial, e eu estou sentada numa cadeira e não tenho pressa em levantar-me. Está-se bem no átrio do teatro. É possível que lá fora ocorram, agora mesmo, mil e um dramas, dos quais eu poderei escrever dois, vá lá, três, por ano, se lá estivesse para os ver e ouvir, é possível que eu os pudesse escrever. Mas estou aqui sentada. E também os poderei escrever, penso. Não me inquieto. Eu sei o que são dramas. Mesmo que os visse na minha frente, em vez de os adivinhar pelos vidros das altas portadas, mesmo que os ouvisse directamente em vez de estar a ouvir a máquina de café, mesmo assim nada garantiria que os viesse a escrever, e já não digo auspiciosamente, digo segundo qualquer convenção. Não basta estar lá. Escrever, ainda que mal, dá trabalho.